it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington

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domingo, 8 de abril de 2012

living the dead among the living

aqui as vidas cruzam-se e não se conhecem. não conhecem rostos, emoções, dores, o que nos faz humanos e nos transmuta em inumanos. a ligeireza da passagem, o roçar dos corpos camuflados em roupagem, malas de viagem, cheiros que não passam pelo ar condicionado industrial. o sentir não tem aqui lugar. uma passagem é sempre um não lugar.
não se tocam olhares, não se sente a pele e é tudo tão triste.
o branco choca com o negro. a luz fere a retina. pedem-se desculpas enquanto se pede passagens apressadas. a vida aqui não tem tempo. não saberão que a morte as espera ao final do túnel?
sorrisos previamente ensaiados perdoam encontros desprevenidos e desencontros não desejados.

A subida da escada rolante é monótona. o tempo anseia-se mas os minutos passeiam-se num vagor impossível.

Encosto-me. Como um automóvel, na faixa direita. devagar permito que me ultrapassem nesta auto-estrada improvisada. forrada a azulejo branco. protejo os olhos, do reflexo que os faróis iluminam no branco das abóbadas. e deixo-me subir. não tenho pressa. não jogo xadrez, como o Cavaleiro de Bergman. não faço apostas. sei que o Sol me espera. estará um lindo dia de primavera.

Eu sei.

sábado, 17 de março de 2012

The reality distortion field



Num ápice li - de ponta a ponta - a biografia de Steve Jobs. (Obrigada P. pela oferta via Palo Alto!)


A vida e a obra de Steve Jobs não me são desconhecidas. O meu primeiro computador foi um tijolo portátil cinzento, ainda com o famoso logo rainbow e ecran cinzento que nos chats eu reduzia a PWBK (PowerBook). 
Quando Jobs regressa à Apple o génio que lhe é reconhecido surge nos novos macs e em outros produtos como o iPod, iPhone, iPad. E em todas as subtilezas que fazem destes interfaces perfeitos entre design e tecnologia. Como ele assim desejava.

Despite all the coddling, Jobs at times almost went crazy. Even when he was barely conscious, his strong personality came trough. At one point the pulmonologist tried to put a mask over his face when he was deeply sedated. Jobs riped it off and mumbled that he hated the design and refused to wear it. Though barely able to speak, he ordered them to bring five different options for the mask and he would pick a design he liked. (...) He also hated the the oxygen monitor they put on his finger. He told them it was ugly and too complex. He suggested ways it could be designed more simply.

in Steve Jobs by Water Isaacson

quinta-feira, 15 de março de 2012

A minha infância


Uma vez fui criança. Andava com os dentes à mostra e não tinha cabelo. Meu pai já homem fora-se. Minha mãe, ainda mulher, cozinhava.  Depois veio a irmãzinha. Quando nasceu era mais velha que eu. Pegava-me ao colo.
O meu pai estava no mar. Chorei dias seguidos até que me prometeu um boneca.
Fui para a escola. A madrinha que nunca me ligou emprestou-me uns óculos de sol. Uma vamp dos anos 70 com 5 anos de idade. Ia à praia. Adorava ver as ondas que me salpicavam de espuma e sal.
A minha tia casou-se enquanto o meu pai bebia Sagres de calções pretos. Eu? Ah, eu usava uns calções tão curtinhos que me estavam sempre a cair. Eram amarelos, de um amarelo-banana lindo, salpicado de manchas ferrugentas das molas.
Depois veio o avô. Adorava-o. Tinha aquele aspecto que todos os netos gostam que os avôs tenham. Via-o ali, de olhar espetado no vazio, enquanto absorvidamente enrolava o cigarro na mortalha.  Contava-me histórias da II Guerra Mundial e fazia-me confissões.
Andava na 1ª classe. Depois passei para a 4ª. Tive uma infância muito feliz e uma classe muito estúpida.
Cresci e comecei a comer pastilhas elásticas. Acho que me suicidei.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma margarita!

Adoro beber.
Gosto de um bom vinho. Gosto do Quinta do Carmo, tinto.
Gosto de caipirinhas. E imperiais. No Verão.
Irish Coffee. Vinho do Porto em cálice grande. No Inverno.
Long drinks. Cocktails.
Odeio shots. Só o conceito atrofia as ligações entre os meus neurónios. Como têm um nível de alcool muito elevado em poucos minutos qualquer um consegue atingir um nível razoável de estupidez. Infelizmente é um tipo de bebida popular entre os putos. (Bom, eles que façam as figuras tristes)

Apetece-me uma margarita. Vamos ao Intermezzo?

Chumbawamba - Tubthumping HQ

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lisboa

Vida do José do Telhado, extraída das "Memorias do Carcere"

Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: nem os ladrões chegam à craveira dos ladrões dos outros países! Todas as vocações morrem de garrote, quando se manifestam e apontam a extraordinários destinos. A Calábria é um desprezado retalho do mundo; mas tem salteadores de renome. Toda aquela Itália, tão rica, tão fértil de pintores, escultores, maestros, cantores, bailarinas, até em produzir quadrilhas de ladrões a bafejou o seu bom génio! É ver como debaixo daquele céu está abalizada em alto ponto a graduação das vocações. Tudo grande, tudo magnífico, tudo fadado a viver com os vindouros, e a preliberar os deleites de sua imortalidade. 

Camilo Castelo Branco

domingo, 4 de dezembro de 2011

Monday's attitude

Have no fear, my child
There is no evil
There is no man
my child able to appart us.

When you are with me
living as you do in my heart
making my body as home of you
So have no fear my child
I'm here.

Crescer.
Raízes.
Longa.
Nuvens.
Mais um dia.

Waking up begins with saying am and now

"O sucesso dos nossos amigos, pelo menos numa certa idade, é uma coisa difícil de suportar. E quis que isso estivesse no romance, juntamente com a comédia e a ternura, porque os homens são assim mesmo". Howard Jacobson, vencedor do Man Booker Prize com o livro The Finkler Question ao Expresso (Atual), 16/04/2011

sábado, 17 de setembro de 2011

A cidadania enquanto retórica

Do ponto de vista político , o que caracteriza a era da globalização é o fosso crescente entre cidadania formal e cidadania efectiva.

Vilaverde Cabral escrevia assim na edição portuguesa do Le Monde Diplomatique. No essencial, nos países ocidentais existe um duplo défice no exercício da cidadania. Por um lado quem o pode fazer, participar activamente não o faz. No extremo temos um grupo excluído que quer participar mas a redoma legal/ social os impede.

Aquilo que se verifica, e em oposição ao reivindicado por essa massa amorfa que se auto-intitula "Geração de Abril", a escola é apenas uma outra forma de exclusão social. Quem pode, acede a uma boa educação. A maioria resigna-se com o serviço estatal.

A escolarização já não é mecanismo de interacção e mobilidade social e conciencialização da cidadania. Está entricheirada em barreiras de sucesso versus insucesso escolar e ratings.