aqui as vidas cruzam-se e não se conhecem. não conhecem rostos, emoções, dores, o que nos faz humanos e nos transmuta em inumanos. a ligeireza da passagem, o roçar dos corpos camuflados em roupagem, malas de viagem, cheiros que não passam pelo ar condicionado industrial. o sentir não tem aqui lugar. uma passagem é sempre um não lugar.
não se tocam olhares, não se sente a pele e é tudo tão triste.
o branco choca com o negro. a luz fere a retina. pedem-se desculpas enquanto se pede passagens apressadas. a vida aqui não tem tempo. não saberão que a morte as espera ao final do túnel?
sorrisos previamente ensaiados perdoam encontros desprevenidos e desencontros não desejados.
A subida da escada rolante é monótona. o tempo anseia-se mas os minutos passeiam-se num vagor impossível.
Encosto-me. Como um automóvel, na faixa direita. devagar permito que me ultrapassem nesta auto-estrada improvisada. forrada a azulejo branco. protejo os olhos, do reflexo que os faróis iluminam no branco das abóbadas. e deixo-me subir. não tenho pressa. não jogo xadrez, como o Cavaleiro de Bergman. não faço apostas. sei que o Sol me espera. estará um lindo dia de primavera.
Eu sei.