it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington

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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

26 de Fevereiro de 1995


Caminhamos desencontrados, querida, levamos a esperança num bolso. Num bolso das calças, seguramo-la como uma moeda. Não se compra nada com ela, é uma moeda, tem um valor alto para uma criança.

[in Em Nome da Terra de Vergílio Ferreira]

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008



Na Martin´s Motor Works alugam-se bicicletas, com ou sem motor, por 20 libras diárias. Não há quem não tenha uma e, apesar da gasolina ser a metade do preço, os carros também por lá andam. Em Gibraltar, é mais fácil ser atropelado por um carrinho de bébé do que por qualquer outra coisa. E, os gibraltarianos, fazem das suas crianças, o ponto de honra para a independência do rochedo.

A história desta rocha, que liga o Mediterrâneo ao Atlântico está marcada por guerras, por conquistas e reconquistas. Dos Sarracenos aos Castelhanos, dos Castelhanos aos Sarracenos, dos Ingleses aos Espanhóis, dos Espanhóis aos Ingleses até 1779, em que uma aliança anglo-holandesa cede Gibraltar a Inglaterra.

Passa-se a fronteira. E entra-se na colónia inglesa - depois de uma noite de movida espanhola - por uma imensa auto-estrada. É a pista do aeroporto. Fecham-se cancelas, aparece um mini-bus para trazer os aero-passageiros, um avião que aterra em uma ponta, parece despenhar-se no Mediterrâneo já na outra ponta da pista, dá meia volta e atravessa a via.

Levantam-se as cancelas. Lá vão os carros, as motocicletas e as mães com os carrinhos de bébé. É apenas rotina.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust



Também em mim muitas coisas foram destruídas que eu julgava que iriam durar sempre e outras novas foram edificadas dando lugar a dores e alegrias novas que então não podiam prever.



[só me falta as novas edificações e as inerentes alegrias novas,tudo o resto já vem no pacote]




Menina-Rainha e as suas pequenas Meninas-Aias olharam-se no rio, para verem os seus belos rostos. Rosados, como meninas. Inocentes, tanto quanto pequeninas.


E as meninas que olhavam os rostos na água corrente do rio, tinham vestidos de flores: uma de rosa, uma de miosótis, uma de mal-me-quer e uma de lilás.


A Menina-Rainha, agora de pé, olhava as suas pequeninas Meninas-Aias e viu Miosótis roubar uma folha de um arbusto, como se este lhe estendesse a mão.


De pés descalços, como todas as meninas, a Menina-Rainha olhava para longe, muito longe e tão longe era que as Meninas-Aias não conseguiam perceber o porquê daquele olhar, como se fosse uma teimosia. Embora pudesse ser apenas uma desistência.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dias Inúteis


João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili


que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,


Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.


[Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade]

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008




[Ou talvez um filme do Steven Segal.]





[E este agora também ía...]




[Ou mesmo este até porque não me lembro da história.]




Expressões que gosto I


Ai valha-me Deus, Nossa Senhora da Quebrada nos acuda!


Expressões que gosto II



Está a chover e a fazer Sol, Nossa Senhora a lavar o seu lençol.


E mais esta que nada tem a ver



I really envy christians
I envy muslins too.
It must be great to be so sure
As a top hindu or Jew.


[Robert Wyatt]



domingo, 10 de fevereiro de 2008

Mentirinhas




Ando a fingir que estou a fazer dieta.

Ando a fingir que gosto do celibato.

Ando a fingir que estou a fazer remodelações na decoração.

Ando a fingir que gosto de cozinhar.

Ando a fingir que não me importo de não gostar do meu trabalho.


Ando a fingir que sou feliz.


sábado, 9 de fevereiro de 2008

Serão Tristes As Oliveiras? de Ruy Belo

Aquela senhora que conheci no comboio, olhando pela janela, disse-me a certa altura que a oliveira é uma árvore triste. Olhei também e estive quase a concordar. Agora felicito-me, porque não foi preciso. Lembro-me que a senhora ia vestida de preto, talvez lhe tivesse morrido alguém. Às oliveiras daquele olival que passava lá fora é que eu tenho a certeza de que não faltava nada: nem sol, nem uma leve brisa, nem um fruto grado, prometedor. E perguntei para mim, ao descer do comboio:

- Porque maltratamos as oliveiras?




Let´s look at the trailer

A sugestão da menina é, realmente, boa. Gostei muito, mas mesmo muito, do Javier Bardem. Excelente actor.

Na mesma ida ao clube de vídeo, acrescentei Little Fish à minha enorme lista de filmes bons. Não, muito bons.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Porque é que nos dias em que estamos nesta bela figura


[S/ Título, Paula Rego]



simplesmente não conseguimos ter o poder de ficar assim


[Marquesa Brigida Doria por Rubens, 1606]


e o melhor que conseguimos é isto ?



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Meu Amor Ignoto


Se tu quisesses, meu amor, podias sentar-te ao pé de mim que eu não me importava.
Eu dar-te-ía o meu lanche e depois jogaríamos à macaca.

Podiamos fingir que éramos namorados. Eu não me importava, meu amor.
Escondíamo-nos do abecedário, no roseiral da casa da minha tia. E fugiríamos para longe. Onde ninguém nos encontrasse. E casávamo-nos. Meu amor.

Tu levavas as alianças dos teus pais, eu usava o vestido de noiva da minha mãe. Com grinalda.
Depois fingiamos que não conheciamos o mundo e os nossos filhos não iríam à escola.

Mas tu foste embora. E eu nunca mais te vi, meu amor.

Se um dia voltares, eu à mesma correrei para os teus braços. Para curar as feridas que os homens grandes fizerem. Nem que tenha de lutar com serpentes de oito braços.

Quando foste embora, meu amor, eu chorei. Todos os dias, todas as noites. Não tenho mais lágrimas, agora. Mas se um dia, meu amor, voltares, eu estarei à tua espera. A regar o musgo das sombras. No roseiral da casa da minha tia, por detrás dos sussurros.

Envia-me uma flor, meu amor, e eu irei contigo.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

FAUSTO de J.W. Goethe (trad. Paulo Quintela)


ASTRÓLOGO. Modera, meu Senhor, esse teu ímpeto!
Deixa passar primeiro a mascarada!
Em distracções, tal fim jamais se atinge.
Concentrando o espírito, primeiro
Reconciliar-nos cumpre e conquistando
O que mais é, depois ganhar o menos.
Quem quer o bem, primeiro bom se faça;
Quem deseja alegria, acalme o sangue;
Cachos maduros pise, o que quer vinho;
E robusteça a fé, quem quer milagres!

IMPERADOR. Pois em ledo folgar nos corra o tempo!
Quarta-feira de cinzas já desejo.
Mas até lá, com mais ardor ainda,
O carnaval ruidoso se celebre!

(Trombetas. Exeunt)

MEFISTÓFELES. Como fortuna e mérito se prendem,
Jamais a tontos destes vem à mente;
Se a filosofal pedra tivessem
O filósofo à pedra faltaria.

sábado, 2 de fevereiro de 2008




Uma noite bonita.

Uma chuva discreta.

Um dia de Inverno, de Sol frio, café da manhã e leituras preguiçosas na cama.