it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington

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quinta-feira, 15 de março de 2012

A minha infância


Uma vez fui criança. Andava com os dentes à mostra e não tinha cabelo. Meu pai já homem fora-se. Minha mãe, ainda mulher, cozinhava.  Depois veio a irmãzinha. Quando nasceu era mais velha que eu. Pegava-me ao colo.
O meu pai estava no mar. Chorei dias seguidos até que me prometeu um boneca.
Fui para a escola. A madrinha que nunca me ligou emprestou-me uns óculos de sol. Uma vamp dos anos 70 com 5 anos de idade. Ia à praia. Adorava ver as ondas que me salpicavam de espuma e sal.
A minha tia casou-se enquanto o meu pai bebia Sagres de calções pretos. Eu? Ah, eu usava uns calções tão curtinhos que me estavam sempre a cair. Eram amarelos, de um amarelo-banana lindo, salpicado de manchas ferrugentas das molas.
Depois veio o avô. Adorava-o. Tinha aquele aspecto que todos os netos gostam que os avôs tenham. Via-o ali, de olhar espetado no vazio, enquanto absorvidamente enrolava o cigarro na mortalha.  Contava-me histórias da II Guerra Mundial e fazia-me confissões.
Andava na 1ª classe. Depois passei para a 4ª. Tive uma infância muito feliz e uma classe muito estúpida.
Cresci e comecei a comer pastilhas elásticas. Acho que me suicidei.


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