para escrever qualquer coisa inteligente: o humor (!) em Schopenhauer, um artigo de Chomsky ou os problemas de infiltração na arquitectura de Frank Ghery (a culpa é, sempre foi e será, do engenheiro de estruturas).
Mas não.
Tenho de pegar nos pincéis e nos tubos de tinta d´óleo e disfarçar uma coroa de princesa made in china. ( e sim!, china fica em letra minúscula ou, para os letrados, lower caps)
Existem livros que nos aguçam o apetite e que eu – como apreciadora de um bom prato e de um bom copo – comparo às ostras do Pap´Açorda, a um João Pires de 1992 ou a um bolo com cobertura de massapão (nas sobremesas sou menos esquisita).
Quando nos conhecemos senti um clique: é aquele que me vai levar ao extâse do conhecimento. Claro está, o livro não era – e não é! – meu mas foi ficando cá em casa, trocando olhares de soslaio e dependentes da mútua presença.
Mas pouco mais. As suas 602 páginas intimidavam-me. E capítulos como Algorithms And Turing Machines ou Quantum Magic And Quantum Mystery apresentavam-se-me assépticos.
Uma década – talvez um pouco menos – de coexistência. Por isto, por me saber incompetente, deixei-o ir. Com algum sentimento de perda mas acima de tudo pela desistência.
Esta semana, The Emperor´s New Mind vai voltar ao dono. Que, esse sim, o compreende como eu nunca tive sequer a coragem de compreender.
Arrogância a minha, qual trouxa de roupa haute-couture em corpo de criança que só quer jogar à bola.
"Sete fatias de fiambre e um link da Atlantic fax favôr".
Na primeira noite que aqui dormi, acordei com o céu da cama que tombou sobre mim, o que me deu a sensação de um assalto, pelo menos foi o que logo pensei. Os ratos davam saltos nos telhados, ressoando como passos de pessoas. Nessa primeira noite levantei-me várias vezes e pus-me a olhar para o jardim.
...
Da casa do vizinho vinha um rugido terrível. Era um leão criado por esta família, um leão de África, preso, segundo que contaram, como o cão bravo da casa. Na primeira noite o vento soprou fortemente e todas as noites sibilava, como se estivéssemos no Outono.
...
Entre o convento e Lisboa, mas mais próximo da cidade, há, num monte com uma grande vista sobre o Tejo, um dos maiores cemitérios da capital, o Cemitério do Alto de São João. O centro é ocupado por uma capela, cujos vários nichos exibem figuras de santos, horríveis imagens de idiotas, uma ofensa ao mármore puro. Partindo da capela, estendem-se pelas várias áleas monumentos, ao lado uns dos outros, em formas de pequenas torres pesadas ou de pirâmides. Está-se aqui na infância da arte da escultura.
[Hans Cristian Andersen em Uma visita em Portugal em 1866]
E não há nada - felizmente - que se assemelhe na arquitectura portuguesa. Cento e cinquenta andares de um condomínio em Chicago, em belíssima engenharia. E o senhor é arquitecto ou engenheiro?
Lembro-me do seu sorriso simpático e essencialmente da sua inteligência analítica. Temos a sorte de uma lindíssima Gare do Oriente nos acossar as entranhas, em esqueleto de aço e betão.
Isto de chamar preguiçoso a outrem é como atirar pedras quando se tem telhaditos de vidro.
Será que uma expedição na geografia emocional funciona como desculpa?
Este tempo estranho não permite grandes alegorias, muito menos alegrias ou sequer estrear um guarda-chuva novo.
A guerra do fumo começa em Janeiro quando, o cirugião Luther Terry apresenta o 1964 Report on Smoking and Health. Pela primeira vez, uma investigação relaciona directamente cancro do pulmão e tabaco. Oito anos depois, em todos os maços de tabaco passa a constar o aviso: Cigarette Smoking May Be Hazardous To Your Health.
Parece que os norte americanos estão a passar por um período de democracia muito questionável.
Observados de fora, estão só a uma guerra ou a umas eleições de se transformarem naquilo a que chamamos fascismo.
[Visão 13-5-2004]
A propósito dos preliminares de Iowa. E as eleições presidenciais só irão ocorrer em Novembro: avizinha-se um ano longo, cheio de Hillarys, Edwards, Obamas e... como é que se chamam mesmo os outros?
a minha miúda é alta de olhos duros e longos assim de pé, com suas longas e duras mãos guardando silêncio no seu vestido, bom para dormir é o seu longo e duro corpo cheio de surpresas qual branco arame electrificado, quando sorri um duro e longo sorriso isso às vezes faz crescer alegremente em mim ardentes comichões, e o frágil ruído dos seus olhos facilmente aguça a minha impaciência atè à ponta - a minha miúda é alta e tesa, com pernas finas tal qual uma trepadeira que passou a vida inteira num muro de jardim, e vai morrer. Quando carrancudos vamos para a cama com estas pernas começa a lançar-se e a enroscar-se à minha volta, e a beijar-me o rosto e a cabeça.
(e.e.cummings, tradução de Jorge Fazenda Lourenço)
Ouvir Stockhausen é uma experiência. Da primeira, nos idos de oitenta, e face à precocidade da idade, recordo apenas a sensação da música diferente que escoava num percurso de arquitectura-instalação nos jardins da Gulbenkian. Da última, um concerto intimista, também na Gulbenkian mas desta feita no Grande Auditório. Muito poucas pessoas, curiosos, resistentes, melómanos ouviram a introdução do maestro que, de branco integral, pediu que os ouvintes se juntassem, as luzes se apagassem e os olhos se fechassem. A exigência da música electrónica deste alemão é tremenda. Um ou dois incautos adormeceram - o ressonar foi o sinal.
Wednesday Greeting - que não conhecia - com roteiro de viagem pelo compositor, e depois o famoso Kontakte fur elektronische Klange, Klavier und Schagzeug. Uma delícia que me levou, com prazer, naquele Novembro de 2005, a percorrer as avenidas novas em noite fria.
Karlheinz Stochausen - diz-me agora um amigo - morreu dia 5 de Dezembro de 2007 em sua casa, na Alemanha. Não sabia.
22 de Janeiro de 1984, quando a América assiste à Super Bowl entre os Oakland Raiders e os Washington Redskins
passa, no intervalo, aquele que ficará como um dos mais famosos anúncios de televisão: 1984. Não fosse realizado por Ridley Scott, partilha também o ambiente ciberpunk-film-noir de Blade Runner.
Era a segunda vez que a Apple Computer comprara espaço publicitário em televisão. E, dias depois, o Macintosh estaría à venda, em qualquer loja de computadores.