it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington

tempoestranho@gmail.com

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Epá


Hoje não deveria escrever sobre nada. Pelo menos nada importante. Meia dúzia de adjectivos e advérbios misturados com um sujeito e um qualquer tempo verbal. Se a vida fosse como a letra gravada tudo era mais simples. E, caso não fosse, a borracha limpa as palavras sujas.

Hoje não me apetece.

Se eu pudesse, chorava.

Limpa a alma.

Amanhã vai ser Bom dia.

E o Clint Eastwood vai beijar-me e perguntar: Miss, can I help you with all those bags?

Outono


Está frio.
Os cobertores voltam.
Os lençóis mais quentes também.

Tu não vais voltar, pois não?

Apetece-me destruir amores alheios. Por pura inveja. O amor não existe. Existem sim equívocados de amor.

Desisto.

Tudo é tão frio. Tão nada. Tão tudo afinal que me consome a alma.

"Eu não te disse? Não vale a pena tirar os cobertores, no Verão. Eles voltam sempre."

Isto é triste. Eu sei.

Nunca mais vai deixar de ser assim. Triste.

Este tempo não é meu.

Este tempo não é teu.

Este tempo não é nosso.

Mas.

Espera.

Posso dar-te um beijinho?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Consolo na praia by Carlos Drummond de Andrade


Vamos, não chores
A infância está perdida.

A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.


O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.

Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado mumuraste
um protesto tímido.

Mas virão outros.

Tudo somado,
devias
precipitar-te - de vez - nas águas.
Estás nú na areia, no vento ...
Dorme, meu filho.

Mães & Filhos e Pais & Filhas


Li uma vez numa revista feminina, em que uma das dez coisas a não mencionar num primeiro-suposto-encontro-amoroso seriam as tropelias, arrelias, amores e outros doces sobre os filhos. Atribuo a minha total inépcia em blind-dates ao facto de passar o tempo a falar sobre a minha filha, sendo que em complemento acrescento estórias dos sobrinhos.

Será por ser mulher?

Será que o homem fica assustado por um monólogo maternal e vê, estampado em letras garrafais, a palavra "compromisso"?

Na hora do café, em pleno trabalho, meia dúzia de moçoilas, mães, sentem-se à vontade a falar dos filhos. Coisas pequeninas, sem importância, mínimas ou fúteis aos ouvidos de quem não sintoniza o mesmo rádio, mas que nos fazem - a nós, mães - sentir especiais. Não conhecemos, na maioria das situações, os filhos das colegas mas podemos dizer com precisão em que escola estão, qual o melhor amigo ou a pior birra feita junto aos pais.

Ser ouvido, ser sentido, deve ser do mais importante. Faz sentir importante, enche-nos a alma. E a partilha de pequenas aventuras tem qualquer coisa de solidariedade mas, acima de tudo, partilha.

M. é um querido amigo, com o coração mais lindo que conheço mas que fugia a sete ou oito pés destas confidências de colegas de trabalho. Hoje é pai. E faz o favor de partilhar a sua alegria, as fotografias, os sorrisos do menino Jesus que tem lá em casa.

Obrigada.

Não é exclusivo, não é inclusivo, mas ser mãe ou ser pai muda a lente com que se vê o mundo. Como se interage com ele.

A fotografia, garanto, é sempre muito muito muito mais bela.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Bhangra




Snob
- n derog 1 a person who pays too much attention to social class, and dislikes or keeps away from people of a lower class 2 a person who is too proud of having special knowledge or judgement in the stated subject, and thinks that something liked by many people is no good

Dictionary of English Language And Culture (ed. Longman, 1998)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

mas quando a fase é descendente, mesmo os mais próximos podem mostrar aspectos que acentuam o tom sombrio daquele que passa a conhecer o sentido de palavras como solidão e infelicidade


quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Está vento por estes lados


porque numa penha sente-se sempre mais a agressividade do tempo. Estranho. É Agosto.


terça-feira, 12 de agosto de 2008

Quando eu for grande quero ser um homem




É referência frequente nas literaturas e teorias da comunicação, os
Cutural Studies muito british homemade. Algures Stuart Hall escreve sobre a experiência dispórica: "não sou nem nunca serei um inglês. Conheço intimamente dois lugares, mas não pertenço a nenhum deles. E esta é exactamente a experiência dispórica, longe o suficiente para experimentar o sentimento de exílio e perda, perto o suficiente para entender o engano de uma chegada sempre adiada".


Camus, em O Estrangeiro, escreve sobre a gratuidade e desprendimento da vida de um homem. Um exilado na sua envolvência. Um inocente. Quão inocente como o Principe Míchkin. O Idiota de Dostoiévski, que a brutalidade da sociedade russa ignora ou despreza, com uma piedade falsa, amarrada em estolas de estorninho. Brutalidade da terra que nos chama e nos afasta, da família que nos ama e nos odeia. Da pertença e da independência, do sangue e do intelecto.


Quem não gosta de bailarinas?

domingo, 10 de agosto de 2008

La paura di essere felice




Deh, bella donna
che a´raggi d´amore
ti scaldi, s´i´vo´credere a´sembianti

che soglio esser testimon del core, vegnati in voglia di trarreti avanti




(
Ah, bela dama, que em raios de amor/ te queimas, a julgar pelos semblantes/ que pelos corações soem depor,/ assim tu queiras e ora te adiantes; A Divina Comédia de Dante Alighieri em tradução de Vasco Graça Moura)


Feios, Porcos e Maus de Ettore Scuola

British newspapers slips of the tongue

Two million pound´s worth of priceless prints and paintings have been stolen.

The robbery was committed by a pair of identical twins. Both are said to be aged twenty.

We were unanimous. In fact, everyone was unanimous.

Finally, but by no means last ...

sábado, 9 de agosto de 2008



Éramos miúdos. Nada pensávamos de nada. Só brincávamos e riamos. Nessa altura o mundo era muito grande mas, os nossos sonhos, maiores ainda.

Tinha sete anos e disse-lhe que ficaria com aquela fotografia até morrer. Mas quem pensa nisso com tão pouca idade? Nada disse a ninguém, com medo que não mais o deixassem brincar com a menina pequenina, franzina. A sua menina.

Imaginava que era tudo só eu e tu ou tu e eu. Muito bem somado, noves fora, tudo. Nós. Com a mesma riqueza de inocência que trespassa como espada o coração pequeno de quem não vê que os mundos das fadas são mágicos.

- A menina vai-me desculpar, concerteza.


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Na última página do livro, no contraste do preto da letra contra o pardo da página, existia a fórmula mágica da felicidade.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A incomensuravel estupidez humana




Hiroshima, 6 de Agosto de 1945

Plutonian Ode by Allen Ginsberg


I
What new element before us unborn in nature? Is there
a new thing under the Sun?
At last inquisitive Whitman a modern epic, detonative,
Scientific theme
First penned unmindful by Doctor Seaborg with poison-
ous hand, named for Death's planet through the
sea beyond Uranus
whose chthonic ore fathers this magma-teared Lord of
Hades, Sire of avenging Furies, billionaire Hell-
King worshipped once
with black sheep throats cut, priests's face averted from
underground mysteries in single temple at Eleusis,
Spring-green Persephone nuptialed to his inevitable
Shade, Demeter mother of asphodel weeping dew,
her daughter stored in salty caverns under white snow,
black hail, grey winter rain or Polar ice, immemor-
able seasons before
Fish flew in Heaven, before a Ram died by the starry
bush, before the Bull stamped sky and earth
or Twins inscribed their memories in clay or Crab'd
flood
washed memory from the skull, or Lion sniffed the
lilac breeze in Eden--
Before the Great Year began turning its twelve signs,
ere constellations wheeled for twenty-four thousand
sunny years
slowly round their axis in Sagittarius, one hundred
sixty-seven thousand times returning to this night

Radioactive Nemesis were you there at the beginning
black dumb tongueless unsmelling blast of Disil-
lusion?
I manifest your Baptismal Word after four billion years
I guess your birthday in Earthling Night, I salute your
dreadful presence last majestic as the Gods,
Sabaot, Jehova, Astapheus, Adonaeus, Elohim, Iao,
Ialdabaoth, Aeon from Aeon born ignorant in an
Abyss of Light,
Sophia's reflections glittering thoughtful galaxies, whirl-
pools of starspume silver-thin as hairs of Einstein!
Father Whitman I celebrate a matter that renders Self
oblivion!
Grand Subject that annihilates inky hands & pages'
prayers, old orators' inspired Immortalities,
I begin your chant, openmouthed exhaling into spacious
sky over silent mills at Hanford, Savannah River,
Rocky Flats, Pantex, Burlington, Albuquerque
I yell thru Washington, South Carolina, Colorado,
Texas, Iowa, New Mexico,
Where nuclear reactors creat a new Thing under the
Sun, where Rockwell war-plants fabricate this death
stuff trigger in nitrogen baths,
Hanger-Silas Mason assembles the terrified weapon
secret by ten thousands, & where Manzano Moun-
tain boasts to store
its dreadful decay through two hundred forty millenia
while our Galaxy spirals around its nebulous core.
I enter your secret places with my mind, I speak with
your presence, I roar your Lion Roar with mortal
mouth.
One microgram inspired to one lung, ten pounds of
heavy metal dust adrift slow motion over grey
Alps
the breadth of the planet, how long before your radiance
speeds blight and death to sentient beings?
Enter my body or not I carol my spirit inside you,
Unnaproachable Weight,
O heavy heavy Element awakened I vocalize your con-
sciousness to six worlds
I chant your absolute Vanity. Yeah monster of Anger
birthed in fear O most
Ignorant matter ever created unnatural to Earth! Delusion
of metal empires!
Destroyer of lying Scientists! Devourer of covetous
Generals, Incinerator of Armies & Melter of Wars!
Judgement of judgements, Divine Wind over vengeful
nations, Molester of Presidents, Death-Scandal of
Capital politics! Ah civilizations stupidly indus-
trious!
Canker-Hex on multitudes learned or illiterate! Manu-
factured Spectre of human reason! O solidified
imago of practicioner in Black Arts
I dare your reality, I challenge your very being! I
publish your cause and effect!
I turn the wheel of Mind on your three hundred tons!
Your name enters mankind's ear! I embody your
ultimate powers!
My oratory advances on your vaunted Mystery! This
breath dispels your braggart fears! I sing your
form at last
behind your concrete & iron walls inside your fortress
of rubber & translucent silicon shields in filtered
cabinets and baths of lathe oil,
My voice resounds through robot glove boxes & ignot
cans and echoes in electric vaults inert of atmo-
sphere,
I enter with spirit out loud into your fuel rod drums
underground on soundless thrones and beds of
lead
O density! This weightless anthem trumpets transcendent
through hidden chambers and breaks through
iron doors into the Infernal Room!
Over your dreadful vibration this measured harmony
floats audible, these jubilant tones are honey and
milk and wine-sweet water
Poured on the stone black floor, these syllables are
barley groats I scatter on the Reactor's core,
I call your name with hollow vowels, I psalm your Fate
close by, my breath near deathless ever at your
side
to Spell your destiny, I set this verse prophetic on your
mausoleum walls to seal you up Eternally with
Diamond Truth! O doomed Plutonium.