it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington

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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Relações difíceis

A música e a filosofia são-me difíceis. Partilhamos espaços, emoções e numa grande maioria das vezes não nos compreendemos. (Bom, eu não as compreendo mas isso seria uma história em vários volumes.)

Um exemplo que gosto de utilizar é a teoria dos jogos da linguagem, em Wittgenstein.

"Mas a expressão dos nossos pensamentos pode sempre faltar à verdade, visto que podemos dizer uma coisa querendo significar outra". Imaginem as várias coisas diferentes que acontecem quando dizemos uma coisa e queremos referir-nos a outra! - Façam a seguinte experiência: digam a frase "está calor neste quarto", querendo dizer "está frio". Observem atentamente o que fazem.
Poderíamos facilmente imaginar seres que pensam em privado por meio de "apartes" e que mentem dizendo algo em voz alta, ao mesmo tempo que, num aparte, dizem o oposto.
"Mas a significação, o pensamento, etc., são experiências privadas. Não são actividades como escrever, falar, etc." - Mas por que motivo não poderiam eles ser as experiências privadas específicas da escrita - as sensações musculares, visuais, tácteis da escrita e da fala?

(Ludwig Wittgenstein, O Livro Azul, Edições 70, Lisboa 1992)

O que me faz lembrar os dramas de Olivier Messiaen, assim relatados em texto da autoria de um outro compositor, João Pedro Oliveira.

O meu primeiro drama é que, sendo músico crente, falo de fé a ateus.

O meu segundo drama é que sou ornitólogo e falo de pássaros a pessoas que nunca se levantaram às quatro horas da manhã para escutar um despertar dos pássaros no campo.

O meu terceiro drama é que ao escutar sons, vejo intelectualmente cores. Bem posso pôr cores na minha música, os ouvintes escutam mas não vêem nada.

Enfim, o meu quarto drama, sou um estudioso do ritmo. Ora a maior parte das pessoas pensam que ritmo se confunde com as durações iguais de uma marcha militar.


Coisas assim, mais ou menos palpáveis acariciam-nos o intelecto e libertam a alma - como uma sinfonia de Rachmaninov numa sala de boa acústica - e com as quais nos vamos apercebendo a banalidade dos dias, afinal a génese de todas as sensações (ai!, ai! a fenomenologia...).

Aparte as divagações, amanhã é só Terça-Feira dia de voltar à pedreira.

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