it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington

tempoestranho@gmail.com

sábado, 29 de dezembro de 2007

Não há coincidências


Ali Bhutto - A braços com novas tendências separatistas


Paquistão - Perspectivas de Nova Guerra Civil?

A situação é bastante tensa na região paquistanesa fronteiriça e em Sind, mas, presentemente, o foco do problema situa-se no Baluquistão.


(in Vida Mundial, 9-3-1973)

Buraka Som Sistema Yah!



Por várias razões (inaptidão social, doença psiquiátrica, laxismo, you name it...) tenho uma capacidade inesgotável de ... tampas, dar tampas.
Convive comigo, pois! , este sentimento eterno de culpa por ser desorganizada, não usar relógio e ter sempre - por norma lá da pedreira! - o telemóvel no silêncio.
A este facto inalienável, e para mitigar o meu remorso, recorro à minha imaginação para ser desculpada, perdoada, qualquer-coisa-enfim-nem-que-seja-tolerada... Uma das últimas, que me lembro (porque a memória também não é das mais famosas) foi fingir-me de estafeta de florista e entregar o mais bonito ramo de flores que consegui construir. (E sim, empastelei o cabelo de gel e até imprimi recibos da florista, para atestar a entrega!).

O meu problema hoje é bem mais sério.

As sextas-feiras são normalmente bons dias. São prenúncio de dias melhores e normalmente tenho reservas de adrenalina que duram e duram e duram.

Excepto ontem.

Ontem, adormeci.

Algures, entre as 19h e as 20h, apaguei. E só sei que apaguei, no sofá de dois lugares, porque acordei pouco depois da meia-noite, com sede e - voilá! - dores de pescoço.

Arrastei-me para a cama, anestesiada de sono.

Hoje, acordei na hora do almoço.

Com uma mensagem no telemóvel.

E agora estou de mal comigo.

Não me vou falar nos próximos dias, para ver se aprendo.

Vou cortar esta relação umbilical, amuar, não me atender os telefonemas nem responder aos emails.

E esperar que eu melhore no próximo ano.

Afinal. Alguém tem de me dar uma lição.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A moça morre tísica mas...

Contra os soluços


Parece estar descoberto o melhor remedio contra os importunos soluços. Consiste elle, diz-nos uma faculdade de medicina, em deitar a lingua de fóra, estendendo-a o mais possivel, e conservando-se assim a pessoa até que os soluços desapareçam.

Se, porém, os soluços forem renitentes, recorrer-se á- ás tracções rytmicas da lingua, como as que estão recomendadas para chamar á vida os asphyxiados.


in


EDUCAÇÃO POPULAR
18º anno - Nº 207


ENCYCLOPEDIA
DAS
FAMILIAS


Revista de instrucção e recreio


___________

ASSIGNATURA

Cada 12 numeros, 800 rs.

LUCAS FILHO


quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Lie, lie, lie

Pede-se a quem souber
do paradeiro de Luísa Porto
avise sua residência
à Rua Santos Óleos, 48.

Previna urgente
solitária mãe enferma
entrevada há longos anos
erma de seus cuidados.

Pede-se quem avistar
Luísa Porto, de 37 anos,
que apareça, que escreva, que mande dizer
onde está.
Suplica-se ao repórter-amador,
ao caixeiro, ao mata-mosquitos, ao transeunte,
a qualquer do povo e da classe média,
até mesmo aos senhores ricos,
que tenham pena da mãe aflita
e lhe restituam a filha volatizada
ou pelo menos dêem informações.
É alta, magra,
morena, rosto penungento, dentes alvos,
sinal de nascença junto ao olho esquerdo,
levemente estrábica.
Vestidinho simples. Óculos.
Sumida há três meses.
Mãe entrevada chamando.

Roga-se ao povo cartitativo desta cidade
que tome em consideração um caso de família
digno de simpatia especial.
Luísa é de bom gênio, correta,
meiga, trabalhadora, religiosa.
Foi fazer compras na feira da praça.
Não voltou.

Levava pouco dinheiro na bolsa.
(Procurem Luísa.)
De ordinário não se demorava.
(Procurem Luísa.)
Namorado isso não tinha.
(Procurem. Procurem.)
Faz tanta falta.

Se todavia não a encontrarem
nem por isso deixem de a procurar
com obstinação e confiança que Deus sempre recompensa
e talvez encontrem.
Mãe, viúva, pobre, não perde a esperança.
Luísa ia pouco à cidade
e aqui no bairro é onde melhor pode ser pesquisada.
Sua melhor amiga, depois da mãe enferma,
é Rita Santana, costureira, moça desimpedida,
a qual não dá notícia nenhuma,
limitando-se a responder: Não sei.
O que não deixa de ser esquisito.


(Desaparecimento de Luísa Porto, de Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Um Natal e Outras Histórias by Truman Capote




Vesti um fato novo. Tinha uma etiqueta espetada na lapela com o meu nome e morada. Para o caso de me perder. Ia viajar sozinho. E toda a gente achou que era melhor pôr-me uma etiqueta. Toda a gente menos eu.

*

Chegamos agora à parte pior: abraçava-me, beijava-me e contava as minhas proezas durante todo o tempo. Sentia-me tão envergonhado! Primeiro que tudo, não havia nada para contar a meu respeito. Eu era um autêntico rapaz de província. Acreditava em Jesus e fazia piedosamente as minha orações. Sabia que o Pai Natal existia. E na minha terra, em Alabama, nunca usava sapatos a não ser quando ia à Igreja; no Inverno ou no Verão.

*

Este é o nosso último Natal juntos. A vida separa-nos. Aqueles-que-tudo-sabem decidiram que eu estarei melhor num colégio militar.

Contagem decrescente

Rabanadas Bacalhau Sonhos Batatada Vinho quente Perna de Perú assada Arroz Doce Fatias douradas Coscorões Papas de carolo Coelho à moda da Mãe Figos com recheio de noz Sopa de grão Bolo-Rei Panettone Sopa dourada Broas Fios d´ovos Queimada Filhós Ponche






Há qualquer coisa de orgia gastronómica por estes dias.

It is the season!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Aviso



Este blog está a paracetamol.
Voltamos quando as fossas nasais estiverem desimpedidas.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Actualidades



My second favourite household chore is ironing. My first hitting my head on the top bunk bed until I faint.


(A minha segunda tarefa doméstica favorita é passar a ferro. A primeira é bater com a cabeça no beliche de cima até desmaiar. Erma Bombeck)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Crossing The Water




Black lake, black boat, two black, cut-paper people.
Where do the black trees go that drink here?
Their shadows must cover Canada.

A little light is filtering from the water flowers.
Their leaves do not wish us to hurry:
They are round and full of dark advice.

Cold works shake the oar.
The spirit of blackness is in us, it is in the fishes.
A snag is lifting a valedictory, pale hand;

Stars open among the lilies.
Are you not blinded by such expressionless sirens?
This is the silence of astounded souls.

Sylvia Plath

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Ele há dias



O tacho ganhou uma nova camada, orgânica, crocante, em vários tons de castanhos e laranjas. Na cozinha, sentia-se um novo perfume, que inebriava e confundia.

Super-Filha: Bom, acho que vamos jantar fora, não?


Blackadder

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Wallis & Edward



As histórias de amor comovem-me. Sim, existem pequeninas histórias de amor, todos os dias, invísiveis, mas as grandes abanam a estrutura pequenina-e-urbana-e-sensata-e-civilizada em que nos movemos. O egoísmo que nos é próprio não permite grandes altruísmos.

Em Janeiro de 1936, o príncipe de Gales é coroado como Edward VIII. Apaixonado já pela Sra. Simpson, sabia-se da sua intenção em casar com esta americana (!), divorciada (!) e cujo segundo divórcio se esperava para Outubro desse ano.
Nos bastidores, várias personalidades tentam demover quer Edward quer Wallis Simpson, para evitar a já murmurada crise constitucional. A 2 de Dezembro a decisão do Rei está tomada.
Dada a oposição do Parlamento, da Igreja de Inglaterra e da própria família, em 11 de Dezembro de 1936, Edward abdica. E comunica a decisão ao país em discurso radiofónico, transmitido pela BBC nessa mesma noite.


At long last I am able to say a few words of my own. I have never wanted to behold anything.
Until now it has not been constitutional possible to me to speak. A few hours ago I discharged my last duty as King and Emperor (...).
You all know the reasons which have impelled me to renounce the throne. But I want you to understand that in making up my mind I did not forget the country or the Empire which as Prince of Wales and lately as King, I have for twenty-five years tried to serve.
But you must believe me when I tell you that I have founded it mpossible to carry the heavy burden responsibility, and to discharge my duties as King as I would wish to do, without the help and support of the woman I love (...).
And now we all have a new King. I wish him and you his people, happiness and prosperity with all my heart.
God bless you all. God save the King.

Wallis e Edward casam-se, em Junho do ano seguinte, em França.



Andei a reler
post antigos (outros nem tanto) e cobriu-se-me a fronte de vergonha. Fiz uns deletes, limpei algumas frases mas, ainda assim

peço desculpa por andar a escrever com os cotovelos.

Posto isto - e armada de gramática e prontuário - retomamos a programação habitual.

O patrão que não conseguiu viver com o salário do operário

Numa das últimas crónicas no Expresso, Nicolau Santos reconta a história de Enzo Rossi, empresário italiano que durante um mês tentou viver com 1000 €, o mesmo salário pago aos seus operários.

No dia 20 já não tinha dinheiro.

E finda a experiência com a magna conclusão:

se o dinheiro não dá para mim, também não dá para eles

pelo que decidiu aumentar em 200€ o rendimento mensal dos empregados, na sua fábrica de massas.

Ah! como eu gostaría de ver aplicado o princípio Rossi lá na pedreira.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Pranto de Ménon por Diotima




Todos os dias saio em busca de algo diferente,
Demandei-o há muito por todos os atalhos destes campos;
Além nos cumes frescos visito as sombras,
E as fontes; o espírito erra dos cimos para a planície,
Implorando sossego; tal como o animal ferido se refugia nas florestas,
Onde antes repousava pelo meio-dia à sua sombra, fora de perigo;
Mas o seu verde abrigo já lhe não dá novas forças,
O espinho cravado fá-lo gemer e tira-lhe o sono,
De nada servem o calor da luz nem a frescura da noite,
E em vão mergulha as feridas nas ondas da torrente.
E tal como é inútil à terra oferecer-lhe a agradável
Erva curativa e nenhum zéfiro consegue estancar o sangue que fermenta,
O mesmo me acontece, caríssimos! Assim parece, e não haverá ninguém
Que possa aliviar-me da tristeza do meu sonho?


De nada serve, ó deuses da morte, enquanto tiverdes
Em vosso poder, prisioneiro, o homem acossado pelo destino,
Enquanto, no vosso furor, o tiverdes lançado na noite tenebrosa,
De nada serve então procurar-vos, suplicar-vos ou queixarmo-nos,
Ou viver pacientemente neste desterro de temor,
E escutar sorrindo o vosso canto sóbrio.
Se assim for, esquece a tua felicidade e dormita silenciosamente.
No entanto brota no teu peito uma réstea de esperança,
Tu ainda não podes, ó minha lama! Não podes ainda
Habituar-te e sonhas dentro de um sonho férreo!
Não estou em festa, mas gostaria de coroar-me de flores;
Não me encontro eu só? Mas algo apaziguador deve
Aproximar-se de mim vindo de longe e sou forçado a sorrir e a admirar-me
Por experimentar alegria no meio de tão grande sofrimento.



(Elegias de Friedrich Holderlin, trad. de Teresa Furtado, Assírio & Alvim)

Boas Festas, Palitinho!



Palitinho constatou que a sua árvore de Natal tinha melhor aspecto que ele.



(in Tim Burton´s The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

E por falar em matadouro




- Look like a clown in that stupid jacket.

- This a snake skin jacket. And for me its a symbol of my individuality and my believe and personal freedom.


(Slaughterhouse by Powermad & Nicolas "Presley" Cage in Wild At Heart)

Matadouro

O matadouro depende da religião no sentido em que templos de épocas recuadas (sem falar dos hindus dos nossos dias) tinham uma utilização dupla, servindo ao mesmo tempo para implorativas preces e matanças. Disto resulta, sem dúvida nenhuma (podemos julgá-lo a partir do aspecto caótico dos matadouros actuais), uma perturbante coincidência entre mistérios mitológicos e a grandeza lúgrubre, característica dos lugares onde o sangue corre. É curioso ver um lancinante queixume exprimir-se na América: quando W. B. Seabrook verifica que a vida orgíaca subsistiu mas o sangue dos sacrifícios não se mistura aos cocktails, e acha os costumes actuais insípidos.

Realmente, nos dias de hoje o matadouro é maldito e posto de quarentena como um barco que transporta cólera. Ora, as vítimas desta maldição não são os carniceiros nem os animais mas as boas criaturas que chegaram ao ponto de não poder suportar a sua asseada fealdade, com efeito uma fealdade que responde a uma necessidade malsã de limpeza, de biliosa pequenez e tédio: a maldição (que só aterroriza quem a profere) leva-as a vegetar o mais longe possível dos matadouros, a exilar-se por correcção num mundo amorfo onde já nada existe de horrível e onde elas se encontram reduzidas, ao sofrer a indelével obsessão da ignomínia, a comer queijo.


(Bataille, in A Mutilação Sacrificial e A Orelha Cortada de Van Gogh, ed. Hiena, 1994)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Conversas Domésticas Que Não Interessam a Ninguém - Nem ao Menino Jesus - Mas Que Funcionam Melhor Que Uma Sessão de Psicoterapia



Super-Mãe: Relógio novo??
Super-Filha: É uma prenda de Natal! Estava num saco e o Pai disse que era para mim...
Super-Mãe: Se é uma prenda de Natal, não a devias ter aberto. É só para abrir no dia de Natal!
Super-Filha: Mas o Pai deixou!

***

Super-Mãe: A Super-Filha já está a receber prendas de Natal?!? Não podes deixar! É para guardar e só receber no Natal. Por isso é que se chamam prendas de Natal!!
Super-Pai: Eu sei, mas ela esteve a mexer no saco... Eu disse-lhe para guardar...
Super-Mãe: E então, porque trouxe ela o relógio??
Super-Pai: Ela insistiu muito...

***

Super-Mãe: Falei com o Pai. Ele tinha pedido para guardares a prenda...
Super-Filha: Sim. Pois foi.
Super-Mãe: Como?! E então?! Mas quem é que manda?!? Tu ou o Pai?
Super-Filha: Eu.




A persiana da sala continua estragada e provavelmente a rir às gargalhadas da minha falta de tempo (sim, porque se tivesse eu tempo e já estaría ela a deslizar que nem seda pelas calhas). Pelo que comprei uma fabulosa fita adesiva (Perfil P em borracha com excelente resistência a todo o tipo de condições climatéricas). E tão eficiente é que recorro a todos os meus músculos - sim, aos três - para conseguir fechar a bendita da porta.


O sexo forte


Geogie Porgie, pudding and pie,
Kissed the girls and made them cry;
When the boys came out to play,
Georgie Porgie ran away.





Acredito piamente que nesta semana vou escrever algo verdadeiramente inteligente.
Ora deixa cá ver... humm

domingo, 2 de dezembro de 2007

Alabama Song

Oh, show us the way to next whisky-bar!
Oh, don´t ask why, oh, don´t ask why!
For we must find the next whisky-bar
For if we don´t find the next whisky-bar
I tell you we must die!
Oh, moon of Alabama
We now must say good-bye
We´ve lost our good old mamma
And must have whisky
Oh, you know why.


Oh, show us the way to next pretty boy!
Oh, don´t ask why, oh, don´t ask why!
For we must find the next pretty boy
For if we don´t find the next pretty boy
I tell you we must die!
Oh, moon of Alabama
We´ve lost our good old mamma
We now must say good-bye
And must have boys
Oh, you know why.


Oh, show us the way to the next little dollar.
Oh, don´t ask why, oh, don´t ask why!
For we must find the next little dollar
For if we don´t find the next little dollar
I tell you we must die!
Oh, moon of Alabama
We now must say good-bye
We´ve lost our good old mamma
And must have dollars
Oh, you know why.






(Aufstieg und Fall Der Stadt Mahagony, by K. Weill and B. Brecht)




A man in a skirt is a man and a half!



sábado, 1 de dezembro de 2007

Fadinha do Lar



1 - Fazer um máquina de roupa branca 2 - Fazer uma máquina de roupa escura 3 - Lavar a casa do Reguila 4 - Mudar a roupa das camas 5 - Limpar vários quilos de pó 6 - Arranjar um homem (para consertar a persiana da sala) 7 - Livrar-me do Espesso das últimas quatro semanas 8 - Fazer sopa 9 - Comprar os legumes para fazer sopa 10 - Fazer a short-list (very, very short!) de prendas de Natal 11 - Encontrar a árvore de Natal 12 - Organizar uma das estantes 13 - Scanar imagens de uma revista que não encontro 14 - Encontrar a revista 15 - Responder a e-mails 16 - Fazer os exercícios de Italiano 17 - Procurar livros na Amazon.uk 18 - Encontrar a Bratz Magic Hair (mas tem de ser a Jade, Mãe!) 19 - Pagar as contas (ai!) 20 - Re-pedir um dos western spaguetti do Sergio Leone, prometido em Outubro


Adoro o fim-de-semana.
Alguém me lembra, domingo à noite, que eram estes os meus planos ?


A piada

Como se reconhece uma loira numa loja de informática?

É aquela que pede a versão do Windows para Macintosh.


A única anedota de loiras que alguma vez consegui decorar.

Àparte a minha inabilidade em contá-la, no início dos anos noventa, só conseguia arrancar algumas gargalhadas à meia dúzia de nerds que conhecia o MacOS e o sistema operativo dos PC.

Uma década e alguns anos depois, o Windows já corre - mesmo! - nos Mac.

E lá se foi a minha deixa para fazer brilharete em jantares com desconhecidos...

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Eruption solo, by Eddie Van Halen

Automóvel - o automóvel aparece frequentemente nos sonhos modernos, quer com o sonhador no interior do veículo, quer vendo os veículos a andar em volta dele. Como qualquer outro veículo, o automóvel simboliza a evolução em marcha e as suas peripécias.

A carroçaria pode estar relacionada com a persona, a máscara, a personagem, que procura causar um efeito em alguém, pelo desejo de ser admirado ou pelo medo de ser desprezado.

(in Dicionários dos Símbolos, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, ed. Teorema)


quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Bonjour Tristesse


Naquele Verão, eu tinha dezassete anos e era inteiramente feliz. Os outros eram o meu pai e Elsa, a sua amante.




Sem partilhar com o meu pai aquela aversão pela fealdade, que tantas vezes me fazia conviver com gente estúpida sentia, no entanto, uma espécie de constrangimento e de ausência junto de pessoas destituídas de qualquer encanto físico; a resignação dessas pessoas em não agradar parecia-me uma doença desprezível. Afinal, que procurávamos nós senão agradar? Ainda hoje não sei se este gosto do meu pai esconde um excesso de vitalidade, um prazer de dominar ou a necessidade secreta, inconfessada, de estar seguro de si mesmo.



(Bonjour Tristesse, de Françoise Sagan, ed. Difel 1988)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe


Trezentas e quarenta e três sms, cinquenta e dois email...
Pronto! Já sei...

O Sporting perdeu.

So what? Big deal!

(Tô deprimida... Bolas! Onde estão os comprimidos para dormir? Cum caneco!)







O paradoxo é, pois, que se fala cada vez mais em trabalho, num momento em que ele existe cada vez menos. É o mesmo paradoxo, no fundo, que faz com que se fale cada vez mais do ambiente e da natureza num momento em que a natureza se artificializa e quando o ambiente se apresenta cada vez mais desnaturado.


(Jérome Bindé in Le Monde Diplomatique ed. portuguesa)

Anjos


Get this widget | Track details | eSnips Social DNA

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Na imprensa brasileira, as informações sobre aquilo a que chamam triplice fronteira são escassas e, por vezes, roçam a anedota. Fala-se, por exemplo, de uma passagem de Bin Laden pelo local, em 1995 - que foi até aproveitada pelos responsáveis do turismo de Foz do Iguaçu (a principal cidade brasileira na tripla fronteira):

Se até Bin Laden arriscou a pele para visitar Foz do Iguaçu, é porque vale a pena.


in Público (17-8-2003)

Ele há dias



?##"@*?!&%??!#*


Que sera, sera, what will be will be

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Tempo Faz Caretas



Visto que não há regresso

E o tempo está de mau cariz,
Viremos o dia do avesso
Para ver como é, primeiro.



A carranca dum velho ou o traseiro
Prazenteiro de um petiz?





Alexandre O´Neill, No Reino da Dinamarca (1958)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Hoje não me apetece



mas fica sempre bem um provérbio para arrematar a coisa:

Comida fina em copos grossos, faz mal aos ossos

Pois parece-me bem.


terça-feira, 20 de novembro de 2007

Porque os Mac são os melhores, by Bill Gates

Dispensável




Pastilha Elástica Sem Açucar

Ingredientes: Edulcorantes (Matitol, Sorbitol, Manitol, Aspártamo, Acesulfame K), Goma Base Com Antioxidante BHT, Estabilizador, Glicerol, Espessante, Goma Arábica, Emulsinante, Lecitina de Soja, Corante E171, Agente de Revestimento (Cera de Carnaúba).
Contém uma fonte de fenilalanina.

O seu consumo excessimo pode ter efeitos laxativos.


Mania de nos informarem de tudo...

domingo, 18 de novembro de 2007

Uma semana sem notícias



Uma semana sem notícias é um drama. Por várias razões, estando a primeira directamente relacionada com a minha total inépcia em implementar o Despotismo Iluminado, como forma de regime lá em casa (os outros motivos estão relacionados e não interessa explanar, mas com o mesmo resultado: Sic Noticias 0-Panda 1), aproveito o fim-de-semana para me colocar no centro do universo. A semana que passou, em balanço geral, não correu nada mal para quem tenha sentido de humor.

E foi assim:

Nacional
1 - Paulo Portas, antigo ministro da Defesa, fotocopiou ou digitalizou (existem as duas versões) aproximadamente 60 mil páginas de documentos com a designação Confidencial;
2 - O director da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro, não tem receio de ter o telefone particular em escuta (já somos dois!);
Internacional
2 - Kadaffi quer acampar em Lisboa, em pleno Dezembro (no comments);
3 - O indio sul-americano que o Bourbon Juan Carlos não conseguiu calar, vem visitar-nos na terça-feira (sim, Hugo Chavez);
Desporto
4 - Por menos de 800 euros (o dobro do nosso Salário Mínimo) qualquer um pode corromper um arbitro de futebol;

A muito custo sustenho a ansiedade enquanto penso nas próximas semanas...

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Amanhã é Fim-de-Semana!


O que significa que a minha rua vai perder o ar de parque de estacionamento a céu aberto e ganhar a sua típica faceta de rua lisboeta. É sempre bom voltar a ver os buracos e os remendos do alcatrão...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFOCK by T. S. Eliot


S´io credesse che mia risposta fosse
A personna che mai tornasse al mondo,
Questa fiamma di questo fondo
Non tornò cìo che giammai di questo fondo
Non tornò viva alcun, s´i´odo il vero,
Senza temma d´infamia ti rispondo.


Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherised upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To led you to an overwhelming question...
Oh, do not ask, ´What is it?´
Let us go and make our visit.

In the room the women come and go
Talking of Michelangelo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Relações difíceis

A música e a filosofia são-me difíceis. Partilhamos espaços, emoções e numa grande maioria das vezes não nos compreendemos. (Bom, eu não as compreendo mas isso seria uma história em vários volumes.)

Um exemplo que gosto de utilizar é a teoria dos jogos da linguagem, em Wittgenstein.

"Mas a expressão dos nossos pensamentos pode sempre faltar à verdade, visto que podemos dizer uma coisa querendo significar outra". Imaginem as várias coisas diferentes que acontecem quando dizemos uma coisa e queremos referir-nos a outra! - Façam a seguinte experiência: digam a frase "está calor neste quarto", querendo dizer "está frio". Observem atentamente o que fazem.
Poderíamos facilmente imaginar seres que pensam em privado por meio de "apartes" e que mentem dizendo algo em voz alta, ao mesmo tempo que, num aparte, dizem o oposto.
"Mas a significação, o pensamento, etc., são experiências privadas. Não são actividades como escrever, falar, etc." - Mas por que motivo não poderiam eles ser as experiências privadas específicas da escrita - as sensações musculares, visuais, tácteis da escrita e da fala?

(Ludwig Wittgenstein, O Livro Azul, Edições 70, Lisboa 1992)

O que me faz lembrar os dramas de Olivier Messiaen, assim relatados em texto da autoria de um outro compositor, João Pedro Oliveira.

O meu primeiro drama é que, sendo músico crente, falo de fé a ateus.

O meu segundo drama é que sou ornitólogo e falo de pássaros a pessoas que nunca se levantaram às quatro horas da manhã para escutar um despertar dos pássaros no campo.

O meu terceiro drama é que ao escutar sons, vejo intelectualmente cores. Bem posso pôr cores na minha música, os ouvintes escutam mas não vêem nada.

Enfim, o meu quarto drama, sou um estudioso do ritmo. Ora a maior parte das pessoas pensam que ritmo se confunde com as durações iguais de uma marcha militar.


Coisas assim, mais ou menos palpáveis acariciam-nos o intelecto e libertam a alma - como uma sinfonia de Rachmaninov numa sala de boa acústica - e com as quais nos vamos apercebendo a banalidade dos dias, afinal a génese de todas as sensações (ai!, ai! a fenomenologia...).

Aparte as divagações, amanhã é só Terça-Feira dia de voltar à pedreira.

domingo, 11 de novembro de 2007

'Por qué no te callas?'



Qual terá sido a parte da frase que Hugo Chavez não percebeu?
Hummm... será já uma questão de hermenêutica? Ou na Venezuela já falam venezuelês?
Hummm...

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Amanhã é Fim-de-Semana (Yes!)

Aos alheios cabedais
lançava-se como seta
namorava branca ou preta
toda a idade lhe convinha.
Consigo três Emes tinha:
Manhoso, Mau e Maneta.



Grazie R. per ricordami gli esercizi per casa (oooops)...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Todas as meninas


... quando forem grandes, querem ser bailarinas.

Hoje é Sexta-Feira

Penso que dia 9 do mesmo mês. Não tenho a certeza.
Não tenho a certeza de um milhão de coisas, grandes e pequenas.
Sonhei com uma menina a correr e um cão que entrava num lago para apanhar uma bola.
Uma casa de campo e duas árvores, com um caminho de cabras que conduzia já não sei onde.

A cama é sempre igual e as paredes também brancas. Assépticas, como se exige.
O lençol amarrotado pelas mesmas guerras e as mesmas curvas de um corpo cansado e dorido.

Aqui não sinto o silêncio mas ruídos.
Os passos das enfermeiras, o marulhar de chinelos em passos apressados como se existissem vidas para salvar.

E deixo o tempo correr, e uma vida que se agarra obstinadamente a um bilhete de identidade.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Perceval´s Narrative A Patient´s Account Of His Psychosis (1830-1832)


Before I rose from my bed, I understood that I was now to proceed through the world as an angel, under the immediate guidance of the Lord, to proclaim the tidings of his second coming.

With that came an uncertain impression that I was to do this in an extraordinary way, and by singing-and this idea haunted me throughout my changes of insanity. I had also an
uncertain impression of a like nature, that I was to go and show myself before the lord lieutenant or the General of the Forces, that I was to breakfast there, and to meet, either at the lord lieutenant´s, a prince of blood royal; or at the General´s, a duke, to whom I was to proclaim the near coming of the Lord.

My guidance not being sure, and my folly or my faith not being determined enough, I reflected on Mary Campbell´s advice, and determined to be guided by what appeared the natural path of duty. And, at the risk of offending the Holy Spirit and the Lord, to prefer showing my gratitude to Captain H. who had shown me so many kind attentions, and to attend his humble table.

I now conceived again that I was to speak to them in an unknown tongue, and to make confessions, and to show signs and wonders: my words and ideas were to be supplied to me. I did not, however, dare to attempt any thing, for I felt no guidance, and I shrank from the ridicule of beginning to speak, and having nothing to say.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Continuação


Quando se ama alguém, espera-se. Não é um frete. É amor. Pode ser doentio, pode ser banal, pode ser mesquinho ou pequeno-buguês. Mas espera-se. E espera-se que o outro chegue e nos acaricie o ego. O Godot nunca chegou e os amigos o esperavam em pé. Se a espera tem de acontecer, que haja espírito prático:

- Uma cadeira para o coração, se faz favor. Quanto é?

À Espera

Italo Calvino escreveu, entre muitas outras coisas e em muitos outros livros, pequenos trechos em que faz uma reflexão atenta sobre o comportamento humano. Racional mas polvinhada com pontinhas de nonsense. Em outras, consegue transmitir a hipocrisia das convenções sociais. De aquilo que, para a maioria de nós, é um estado adquirido sobre o ser e o estar.

Eu não faço aquilo que quero, eu faço aquilo de que se espera de mim.

O que assusta - ou talvez seja cinismo puro e duro - é a não-espera. Aquilo que Calvino (o escritor, não o teólogo entenda-se) escreveu em Se Numa Noite de Inverno Um Viajante:

És um daqueles que por princípio não espera mais nada de nada.

Ao que uma Marguerite Duras poderia responder: C´est tout!