it don´t mean a thing if it ain´t got that swing. duke ellington
tempoestranho@gmail.com
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terça-feira, 7 de outubro de 2008
Epá
Hoje não deveria escrever sobre nada. Pelo menos nada importante. Meia dúzia de adjectivos e advérbios misturados com um sujeito e um qualquer tempo verbal. Se a vida fosse como a letra gravada tudo era mais simples. E, caso não fosse, a borracha limpa as palavras sujas.
Hoje não me apetece.
Se eu pudesse, chorava.
Limpa a alma.
Amanhã vai ser Bom dia.
E o Clint Eastwood vai beijar-me e perguntar: Miss, can I help you with all those bags?
Outono
Está frio.
Os cobertores voltam.
Os lençóis mais quentes também.
Tu não vais voltar, pois não?
Apetece-me destruir amores alheios. Por pura inveja. O amor não existe. Existem sim equívocados de amor.
Desisto.
Tudo é tão frio. Tão nada. Tão tudo afinal que me consome a alma.
"Eu não te disse? Não vale a pena tirar os cobertores, no Verão. Eles voltam sempre."
Isto é triste. Eu sei.
Nunca mais vai deixar de ser assim. Triste.
Este tempo não é meu.
Este tempo não é teu.
Este tempo não é nosso.
Mas.
Espera.
Posso dar-te um beijinho?
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Consolo na praia by Carlos Drummond de Andrade
Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado mumuraste
um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado,
devias precipitar-te - de vez - nas águas.
Estás nú na areia, no vento ...
Dorme, meu filho.
Mães & Filhos e Pais & Filhas
Li uma vez numa revista feminina, em que uma das dez coisas a não mencionar num primeiro-suposto-encontro-amoroso seriam as tropelias, arrelias, amores e outros doces sobre os filhos. Atribuo a minha total inépcia em blind-dates ao facto de passar o tempo a falar sobre a minha filha, sendo que em complemento acrescento estórias dos sobrinhos.
Será por ser mulher?
Será que o homem fica assustado por um monólogo maternal e vê, estampado em letras garrafais, a palavra "compromisso"?
Na hora do café, em pleno trabalho, meia dúzia de moçoilas, mães, sentem-se à vontade a falar dos filhos. Coisas pequeninas, sem importância, mínimas ou fúteis aos ouvidos de quem não sintoniza o mesmo rádio, mas que nos fazem - a nós, mães - sentir especiais. Não conhecemos, na maioria das situações, os filhos das colegas mas podemos dizer com precisão em que escola estão, qual o melhor amigo ou a pior birra feita junto aos pais.
Ser ouvido, ser sentido, deve ser do mais importante. Faz sentir importante, enche-nos a alma. E a partilha de pequenas aventuras tem qualquer coisa de solidariedade mas, acima de tudo, partilha.
M. é um querido amigo, com o coração mais lindo que conheço mas que fugia a sete ou oito pés destas confidências de colegas de trabalho. Hoje é pai. E faz o favor de partilhar a sua alegria, as fotografias, os sorrisos do menino Jesus que tem lá em casa.
Obrigada.
Não é exclusivo, não é inclusivo, mas ser mãe ou ser pai muda a lente com que se vê o mundo. Como se interage com ele.
A fotografia, garanto, é sempre muito muito muito mais bela.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Snob - n derog 1 a person who pays too much attention to social class, and dislikes or keeps away from people of a lower class 2 a person who is too proud of having special knowledge or judgement in the stated subject, and thinks that something liked by many people is no good
Dictionary of English Language And Culture (ed. Longman, 1998)
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Está vento por estes lados
porque numa penha sente-se sempre mais a agressividade do tempo. Estranho. É Agosto.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
É referência frequente nas literaturas e teorias da comunicação, os Cutural Studies muito british homemade. Algures Stuart Hall escreve sobre a experiência dispórica: "não sou nem nunca serei um inglês. Conheço intimamente dois lugares, mas não pertenço a nenhum deles. E esta é exactamente a experiência dispórica, longe o suficiente para experimentar o sentimento de exílio e perda, perto o suficiente para entender o engano de uma chegada sempre adiada".
Camus, em O Estrangeiro, escreve sobre a gratuidade e desprendimento da vida de um homem. Um exilado na sua envolvência. Um inocente. Quão inocente como o Principe Míchkin. O Idiota de Dostoiévski, que a brutalidade da sociedade russa ignora ou despreza, com uma piedade falsa, amarrada em estolas de estorninho. Brutalidade da terra que nos chama e nos afasta, da família que nos ama e nos odeia. Da pertença e da independência, do sangue e do intelecto.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
domingo, 10 de agosto de 2008
La paura di essere felice
Deh, bella donna che a´raggi d´amore
ti scaldi, s´i´vo´credere a´sembianti
che soglio esser testimon del core, vegnati in voglia di trarreti avanti
(Ah, bela dama, que em raios de amor/ te queimas, a julgar pelos semblantes/ que pelos corações soem depor,/ assim tu queiras e ora te adiantes; A Divina Comédia de Dante Alighieri em tradução de Vasco Graça Moura)
British newspapers slips of the tongue
Two million pound´s worth of priceless prints and paintings have been stolen.
The robbery was committed by a pair of identical twins. Both are said to be aged twenty.
We were unanimous. In fact, everyone was unanimous.
Finally, but by no means last ...
The robbery was committed by a pair of identical twins. Both are said to be aged twenty.
We were unanimous. In fact, everyone was unanimous.
Finally, but by no means last ...
sábado, 9 de agosto de 2008
Éramos miúdos. Nada pensávamos de nada. Só brincávamos e riamos. Nessa altura o mundo era muito grande mas, os nossos sonhos, maiores ainda.
Tinha sete anos e disse-lhe que ficaria com aquela fotografia até morrer. Mas quem pensa nisso com tão pouca idade? Nada disse a ninguém, com medo que não mais o deixassem brincar com a menina pequenina, franzina. A sua menina.
Imaginava que era tudo só eu e tu ou tu e eu. Muito bem somado, noves fora, tudo. Nós. Com a mesma riqueza de inocência que trespassa como espada o coração pequeno de quem não vê que os mundos das fadas são mágicos.
- A menina vai-me desculpar, concerteza.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Plutonian Ode by Allen Ginsberg
I
What new element before us unborn in nature? Is there
a new thing under the Sun?
At last inquisitive Whitman a modern epic, detonative,
Scientific theme
First penned unmindful by Doctor Seaborg with poison-
ous hand, named for Death's planet through the
sea beyond Uranus
whose chthonic ore fathers this magma-teared Lord of
Hades, Sire of avenging Furies, billionaire Hell-
King worshipped once
with black sheep throats cut, priests's face averted from
underground mysteries in single temple at Eleusis,
Spring-green Persephone nuptialed to his inevitable
Shade, Demeter mother of asphodel weeping dew,
her daughter stored in salty caverns under white snow,
black hail, grey winter rain or Polar ice, immemor-
able seasons before
Fish flew in Heaven, before a Ram died by the starry
bush, before the Bull stamped sky and earth
or Twins inscribed their memories in clay or Crab'd
flood
washed memory from the skull, or Lion sniffed the
lilac breeze in Eden--
Before the Great Year began turning its twelve signs,
ere constellations wheeled for twenty-four thousand
sunny years
slowly round their axis in Sagittarius, one hundred
sixty-seven thousand times returning to this night
Radioactive Nemesis were you there at the beginning
black dumb tongueless unsmelling blast of Disil-
lusion?
I manifest your Baptismal Word after four billion years
I guess your birthday in Earthling Night, I salute your
dreadful presence last majestic as the Gods,
Sabaot, Jehova, Astapheus, Adonaeus, Elohim, Iao,
Ialdabaoth, Aeon from Aeon born ignorant in an
Abyss of Light,
Sophia's reflections glittering thoughtful galaxies, whirl-
pools of starspume silver-thin as hairs of Einstein!
Father Whitman I celebrate a matter that renders Self
oblivion!
Grand Subject that annihilates inky hands & pages'
prayers, old orators' inspired Immortalities,
I begin your chant, openmouthed exhaling into spacious
sky over silent mills at Hanford, Savannah River,
Rocky Flats, Pantex, Burlington, Albuquerque
I yell thru Washington, South Carolina, Colorado,
Texas, Iowa, New Mexico,
Where nuclear reactors creat a new Thing under the
Sun, where Rockwell war-plants fabricate this death
stuff trigger in nitrogen baths,
Hanger-Silas Mason assembles the terrified weapon
secret by ten thousands, & where Manzano Moun-
tain boasts to store
its dreadful decay through two hundred forty millenia
while our Galaxy spirals around its nebulous core.
I enter your secret places with my mind, I speak with
your presence, I roar your Lion Roar with mortal
mouth.
One microgram inspired to one lung, ten pounds of
heavy metal dust adrift slow motion over grey
Alps
the breadth of the planet, how long before your radiance
speeds blight and death to sentient beings?
Enter my body or not I carol my spirit inside you,
Unnaproachable Weight,
O heavy heavy Element awakened I vocalize your con-
sciousness to six worlds
I chant your absolute Vanity. Yeah monster of Anger
birthed in fear O most
Ignorant matter ever created unnatural to Earth! Delusion
of metal empires!
Destroyer of lying Scientists! Devourer of covetous
Generals, Incinerator of Armies & Melter of Wars!
Judgement of judgements, Divine Wind over vengeful
nations, Molester of Presidents, Death-Scandal of
Capital politics! Ah civilizations stupidly indus-
trious!
Canker-Hex on multitudes learned or illiterate! Manu-
factured Spectre of human reason! O solidified
imago of practicioner in Black Arts
I dare your reality, I challenge your very being! I
publish your cause and effect!
I turn the wheel of Mind on your three hundred tons!
Your name enters mankind's ear! I embody your
ultimate powers!
My oratory advances on your vaunted Mystery! This
breath dispels your braggart fears! I sing your
form at last
behind your concrete & iron walls inside your fortress
of rubber & translucent silicon shields in filtered
cabinets and baths of lathe oil,
My voice resounds through robot glove boxes & ignot
cans and echoes in electric vaults inert of atmo-
sphere,
I enter with spirit out loud into your fuel rod drums
underground on soundless thrones and beds of
lead
O density! This weightless anthem trumpets transcendent
through hidden chambers and breaks through
iron doors into the Infernal Room!
Over your dreadful vibration this measured harmony
floats audible, these jubilant tones are honey and
milk and wine-sweet water
Poured on the stone black floor, these syllables are
barley groats I scatter on the Reactor's core,
I call your name with hollow vowels, I psalm your Fate
close by, my breath near deathless ever at your
side
to Spell your destiny, I set this verse prophetic on your
mausoleum walls to seal you up Eternally with
Diamond Truth! O doomed Plutonium.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Obra de Arte
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Berlim, Jogos Olímpicos de 1936
No regime de Hitler estava-se convencido que o Deutschland, Deutschland über Alles seria o mote dos Jogos Olímpicos de 1936. Mas perante o espanto e a fúria do ditador e colaboradores, a auto-apelidada raça pura não estaría presente em todos os pódios.
A 2 de Agosto, Jesse Owens, atleta de excepção, filho de escravos, ganha a medalha de ouro nos 200 metros, estabelecendo novo recorde olímpico. Seguir-se íam as medalhas nos 100 metros, na estafeta 4x100m e no salto em comprimento.
Mas Jesse Owens era um atleta negro, do Sul. O próprio era considerado inferior, no seio da comitiva olímpica norte-americana. E as medalhas não lhe mudaram a vida do dia-a-dia.
Os atletas Lutz Long (Alemanha) e Jesse Owens (EUA)
"After I came home from the 1936 Olympics with my four medals, it became increasingly apparent that everyone was going to slap me on the back, want to shake my hand or have me up to their suite. But no one was going to offer me a job."
- in Jesse Owens, Champion Athlete, by Tony Gentry (1990)
quinta-feira, 24 de julho de 2008
quarta-feira, 23 de julho de 2008
E este eu não conhecia
O mundo nos vê, Deus é que nos conhece, ninguém é como parece.
(... e pensando um bocadinho na coisa até que... ora bem... hummm)
Ele há dias
em que não é preciso sair de casa para fazer grandes estragos.
Quem se lembra de fazer um traumatismo craniano com fracturas da parede orbital e da grande asa do esfenóide, só por desmaiar no meio da sala a 30 centímetros do sofá?
Estas coisas não acontecem nos filmes da Walt Disney! (Bom, é certo que na maioria dos casos existe sempre um príncipe a aparar a queda da donzela...)
quarta-feira, 16 de julho de 2008
I (by Walt Whitman)
I celebrate myself, and sing myself,
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
I loafe and invite my soul,
I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass.
My tongue, every atom of my blood, form´d from this soil, this air,
Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,
I, now thirty-seven years old in perfect health begin,
Hoping to cease not till death.
Creeds and schools in abeyance,
Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten,
I harbor for good or bad, I permit not to speak at every hazard,
Nature without check with original energy.
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
I loafe and invite my soul,
I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass.
My tongue, every atom of my blood, form´d from this soil, this air,
Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,
I, now thirty-seven years old in perfect health begin,
Hoping to cease not till death.
Creeds and schools in abeyance,
Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten,
I harbor for good or bad, I permit not to speak at every hazard,
Nature without check with original energy.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Preguiça
acídia; aí; bandarrice; calaçaria; desídia; desmazelo; engonha; frouxidão; ignávia; inacção; indiligência; indolência; inércia; lazeira; letargo; madracaria; mamparra; mândria; mangona; moleza; ócio; parrana; rebimba; segnícia, sorna; urutau; vadiagem.
Me. Sound´s ok, right?
sexta-feira, 21 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
26 de Fevereiro de 1995
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Na Martin´s Motor Works alugam-se bicicletas, com ou sem motor, por 20 libras diárias. Não há quem não tenha uma e, apesar da gasolina ser a metade do preço, os carros também por lá andam. Em Gibraltar, é mais fácil ser atropelado por um carrinho de bébé do que por qualquer outra coisa. E, os gibraltarianos, fazem das suas crianças, o ponto de honra para a independência do rochedo.
A história desta rocha, que liga o Mediterrâneo ao Atlântico está marcada por guerras, por conquistas e reconquistas. Dos Sarracenos aos Castelhanos, dos Castelhanos aos Sarracenos, dos Ingleses aos Espanhóis, dos Espanhóis aos Ingleses até 1779, em que uma aliança anglo-holandesa cede Gibraltar a Inglaterra.
Passa-se a fronteira. E entra-se na colónia inglesa - depois de uma noite de movida espanhola - por uma imensa auto-estrada. É a pista do aeroporto. Fecham-se cancelas, aparece um mini-bus para trazer os aero-passageiros, um avião que aterra em uma ponta, parece despenhar-se no Mediterrâneo já na outra ponta da pista, dá meia volta e atravessa a via.
Levantam-se as cancelas. Lá vão os carros, as motocicletas e as mães com os carrinhos de bébé. É apenas rotina.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Menina-Rainha e as suas pequenas Meninas-Aias olharam-se no rio, para verem os seus belos rostos. Rosados, como meninas. Inocentes, tanto quanto pequeninas.
E as meninas que olhavam os rostos na água corrente do rio, tinham vestidos de flores: uma de rosa, uma de miosótis, uma de mal-me-quer e uma de lilás.
A Menina-Rainha, agora de pé, olhava as suas pequeninas Meninas-Aias e viu Miosótis roubar uma folha de um arbusto, como se este lhe estendesse a mão.
De pés descalços, como todas as meninas, a Menina-Rainha olhava para longe, muito longe e tão longe era que as Meninas-Aias não conseguiam perceber o porquê daquele olhar, como se fosse uma teimosia. Embora pudesse ser apenas uma desistência.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Dias Inúteis
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
[Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade]
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
E mais esta que nada tem a ver
I really envy christians
I envy muslins too.
It must be great to be so sure
As a top hindu or Jew.
[Robert Wyatt]
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Mentirinhas
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Serão Tristes As Oliveiras? de Ruy Belo
Aquela senhora que conheci no comboio, olhando pela janela, disse-me a certa altura que a oliveira é uma árvore triste. Olhei também e estive quase a concordar. Agora felicito-me, porque não foi preciso. Lembro-me que a senhora ia vestida de preto, talvez lhe tivesse morrido alguém. Às oliveiras daquele olival que passava lá fora é que eu tenho a certeza de que não faltava nada: nem sol, nem uma leve brisa, nem um fruto grado, prometedor. E perguntei para mim, ao descer do comboio:
- Porque maltratamos as oliveiras?
- Porque maltratamos as oliveiras?
Let´s look at the trailer
A sugestão da menina é, realmente, boa. Gostei muito, mas mesmo muito, do Javier Bardem. Excelente actor.
Na mesma ida ao clube de vídeo, acrescentei Little Fish à minha enorme lista de filmes bons. Não, muito bons.
Na mesma ida ao clube de vídeo, acrescentei Little Fish à minha enorme lista de filmes bons. Não, muito bons.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Meu Amor Ignoto
Se tu quisesses, meu amor, podias sentar-te ao pé de mim que eu não me importava.
Eu dar-te-ía o meu lanche e depois jogaríamos à macaca.
Podiamos fingir que éramos namorados. Eu não me importava, meu amor.
Escondíamo-nos do abecedário, no roseiral da casa da minha tia. E fugiríamos para longe. Onde ninguém nos encontrasse. E casávamo-nos. Meu amor.
Tu levavas as alianças dos teus pais, eu usava o vestido de noiva da minha mãe. Com grinalda.
Depois fingiamos que não conheciamos o mundo e os nossos filhos não iríam à escola.
Mas tu foste embora. E eu nunca mais te vi, meu amor.
Se um dia voltares, eu à mesma correrei para os teus braços. Para curar as feridas que os homens grandes fizerem. Nem que tenha de lutar com serpentes de oito braços.
Quando foste embora, meu amor, eu chorei. Todos os dias, todas as noites. Não tenho mais lágrimas, agora. Mas se um dia, meu amor, voltares, eu estarei à tua espera. A regar o musgo das sombras. No roseiral da casa da minha tia, por detrás dos sussurros.
Envia-me uma flor, meu amor, e eu irei contigo.
Eu dar-te-ía o meu lanche e depois jogaríamos à macaca.
Podiamos fingir que éramos namorados. Eu não me importava, meu amor.
Escondíamo-nos do abecedário, no roseiral da casa da minha tia. E fugiríamos para longe. Onde ninguém nos encontrasse. E casávamo-nos. Meu amor.
Tu levavas as alianças dos teus pais, eu usava o vestido de noiva da minha mãe. Com grinalda.
Depois fingiamos que não conheciamos o mundo e os nossos filhos não iríam à escola.
Mas tu foste embora. E eu nunca mais te vi, meu amor.
Se um dia voltares, eu à mesma correrei para os teus braços. Para curar as feridas que os homens grandes fizerem. Nem que tenha de lutar com serpentes de oito braços.
Quando foste embora, meu amor, eu chorei. Todos os dias, todas as noites. Não tenho mais lágrimas, agora. Mas se um dia, meu amor, voltares, eu estarei à tua espera. A regar o musgo das sombras. No roseiral da casa da minha tia, por detrás dos sussurros.
Envia-me uma flor, meu amor, e eu irei contigo.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
FAUSTO de J.W. Goethe (trad. Paulo Quintela)
ASTRÓLOGO. Modera, meu Senhor, esse teu ímpeto!
Deixa passar primeiro a mascarada!
Em distracções, tal fim jamais se atinge.
Concentrando o espírito, primeiro
Reconciliar-nos cumpre e conquistando
O que mais é, depois ganhar o menos.
Quem quer o bem, primeiro bom se faça;
Quem deseja alegria, acalme o sangue;
Cachos maduros pise, o que quer vinho;
E robusteça a fé, quem quer milagres!
IMPERADOR. Pois em ledo folgar nos corra o tempo!
Quarta-feira de cinzas já desejo.
Mas até lá, com mais ardor ainda,
O carnaval ruidoso se celebre!
(Trombetas. Exeunt)
MEFISTÓFELES. Como fortuna e mérito se prendem,
Jamais a tontos destes vem à mente;
Se a filosofal pedra tivessem
O filósofo à pedra faltaria.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Infames! Infames!
Grita a Rainha Dona Amélia, armada de ramo de flores.
Pois sim, senhor...
mas é que há sempre uma grande senhora e uma dedicada mãe.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Hoje até podia ser um bom dia
para escrever qualquer coisa inteligente: o humor (!) em Schopenhauer, um artigo de Chomsky ou os problemas de infiltração na arquitectura de Frank Ghery (a culpa é, sempre foi e será, do engenheiro de estruturas).
Mas não.
Tenho de pegar nos pincéis e nos tubos de tinta d´óleo e disfarçar uma coroa de princesa made in china. ( e sim!, china fica em letra minúscula ou, para os letrados, lower caps)
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
O Do Not Love Too Long by W.B. Yeats
Sweatheart, do not love too long:
I loved long and long,
And grew to be out of fashion
Like an old song.
All through the years of your youth
Neither could have known
Their own thought from the other ´s,
We were so much at one.
But O, in a minute she changed -
O do not love too long,
Or you will grow out of fashion
Like an old song.
I loved long and long,
And grew to be out of fashion
Like an old song.
All through the years of your youth
Neither could have known
Their own thought from the other ´s,
We were so much at one.
But O, in a minute she changed -
O do not love too long,
Or you will grow out of fashion
Like an old song.
The Emperor´s New Mind – Concerning Computers, Minds and The Laws Of Physics by Roger Penrose
Existem livros que nos aguçam o apetite e que eu – como apreciadora de um bom prato e de um bom copo – comparo às ostras do Pap´Açorda, a um João Pires de 1992 ou a um bolo com cobertura de massapão (nas sobremesas sou menos esquisita).
Quando nos conhecemos senti um clique: é aquele que me vai levar ao extâse do conhecimento. Claro está, o livro não era – e não é! – meu mas foi ficando cá em casa, trocando olhares de soslaio e dependentes da mútua presença.
Mas pouco mais. As suas 602 páginas intimidavam-me. E capítulos como Algorithms And Turing Machines ou Quantum Magic And Quantum Mystery apresentavam-se-me assépticos.
Uma década – talvez um pouco menos – de coexistência. Por isto, por me saber incompetente, deixei-o ir. Com algum sentimento de perda mas acima de tudo pela desistência.
Esta semana, The Emperor´s New Mind vai voltar ao dono. Que, esse sim, o compreende como eu nunca tive sequer a coragem de compreender.
Arrogância a minha, qual trouxa de roupa haute-couture em corpo de criança que só quer jogar à bola.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Há qualquer coisa de merceeiro da esquina, de esfregar de mãos e tilintar de moedas na caixa registadora
Na primeira noite que aqui dormi, acordei com o céu da cama que tombou sobre mim, o que me deu a sensação de um assalto, pelo menos foi o que logo pensei. Os ratos davam saltos nos telhados, ressoando como passos de pessoas. Nessa primeira noite levantei-me várias vezes e pus-me a olhar para o jardim.
...
Da casa do vizinho vinha um rugido terrível. Era um leão criado por esta família, um leão de África, preso, segundo que contaram, como o cão bravo da casa. Na primeira noite o vento soprou fortemente e todas as noites sibilava, como se estivéssemos no Outono.
...
Entre o convento e Lisboa, mas mais próximo da cidade, há, num monte com uma grande vista sobre o Tejo, um dos maiores cemitérios da capital, o Cemitério do Alto de São João. O centro é ocupado por uma capela, cujos vários nichos exibem figuras de santos, horríveis imagens de idiotas, uma ofensa ao mármore puro. Partindo da capela, estendem-se pelas várias áleas monumentos, ao lado uns dos outros, em formas de pequenas torres pesadas ou de pirâmides. Está-se aqui na infância da arte da escultura.
[Hans Cristian Andersen em Uma visita em Portugal em 1866]
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Calatrava
Gosto muito.
E não há nada - felizmente - que se assemelhe na arquitectura portuguesa.
Cento e cinquenta andares de um condomínio em Chicago, em belíssima engenharia.
E o senhor é arquitecto ou engenheiro?
Lembro-me do seu sorriso simpático e essencialmente da sua inteligência analítica.
Temos a sorte de uma lindíssima Gare do Oriente nos acossar as entranhas, em esqueleto de aço e betão.
Isto de chamar preguiçoso a outrem é como atirar pedras quando se tem telhaditos de vidro.
Será que uma expedição na geografia emocional funciona como desculpa?
Será que uma expedição na geografia emocional funciona como desculpa?
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Actualidades
A guerra do fumo começa em Janeiro quando, o cirugião Luther Terry apresenta o 1964 Report on Smoking and Health. Pela primeira vez, uma investigação relaciona directamente cancro do pulmão e tabaco. Oito anos depois, em todos os maços de tabaco passa a constar o aviso: Cigarette Smoking May Be Hazardous To Your Health.
Não parece ter passado muito tempo.
Não parece ter passado muito tempo.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Esta coisa de olhar para o monitor - por mais bonito que ele seja e sim! o do meu mac é lindíssimo - não ilumina o espírito, não gera inspiração e da
transpiração não reza a história, até porque ainda é Inverno.
Não tendo por característica a sensatez parece-me, no entanto, que
Pois então, ala que se faz tarde, amanhã é dia longo e já não arrisco a aposta que nem metade da agenda se cumpre.
[Isto de se escrever sem querer dizer é interessante. Um enchimento de vazio, per si]
a noite é boa conselheira.
Pois então, ala que se faz tarde, amanhã é dia longo e já não arrisco a aposta que nem metade da agenda se cumpre.
[Isto de se escrever sem querer dizer é interessante. Um enchimento de vazio, per si]
domingo, 6 de janeiro de 2008
John Le Carré dixit
Parece que os norte americanos estão a passar por um período de democracia muito questionável.
Observados de fora, estão só a uma guerra ou a umas eleições de se transformarem naquilo a que chamamos fascismo.
[Visão 13-5-2004]
A propósito dos preliminares de Iowa. E as eleições presidenciais só irão ocorrer em Novembro: avizinha-se um ano longo, cheio de Hillarys, Edwards, Obamas e... como é que se chamam mesmo os outros?[Visão 13-5-2004]
[iii]
a minha miúda é alta de olhos duros e longos
assim de pé, com suas longas e duras mãos guardando
silêncio no seu vestido, bom para dormir
é o seu longo e duro corpo cheio de surpresas
qual branco arame electrificado, quando sorri
um duro e longo sorriso isso às vezes faz
crescer alegremente em mim ardentes comichões,
e o frágil ruído dos seus olhos facilmente aguça
a minha impaciência atè à ponta - a minha miúda é alta
e tesa, com pernas finas tal qual uma trepadeira
que passou a vida inteira num muro de jardim,
e vai morrer. Quando carrancudos vamos para a cama
com estas pernas começa a lançar-se e a enroscar-se
à minha volta, e a beijar-me o rosto e a cabeça.
(e.e.cummings, tradução de Jorge Fazenda Lourenço)
assim de pé, com suas longas e duras mãos guardando
silêncio no seu vestido, bom para dormir
é o seu longo e duro corpo cheio de surpresas
qual branco arame electrificado, quando sorri
um duro e longo sorriso isso às vezes faz
crescer alegremente em mim ardentes comichões,
e o frágil ruído dos seus olhos facilmente aguça
a minha impaciência atè à ponta - a minha miúda é alta
e tesa, com pernas finas tal qual uma trepadeira
que passou a vida inteira num muro de jardim,
e vai morrer. Quando carrancudos vamos para a cama
com estas pernas começa a lançar-se e a enroscar-se
à minha volta, e a beijar-me o rosto e a cabeça.
(e.e.cummings, tradução de Jorge Fazenda Lourenço)
Stockhausen
Ouvir Stockhausen é uma experiência. Da primeira, nos idos de oitenta, e face à precocidade da idade, recordo apenas a sensação da música diferente que escoava num percurso de arquitectura-instalação nos jardins da Gulbenkian.
Da última, um concerto intimista, também na Gulbenkian mas desta feita no Grande Auditório. Muito poucas pessoas, curiosos, resistentes, melómanos ouviram a introdução do maestro que, de branco integral, pediu que os ouvintes se juntassem, as luzes se apagassem e os olhos se fechassem. A exigência da música electrónica deste alemão é tremenda. Um ou dois incautos adormeceram - o ressonar foi o sinal.
Wednesday Greeting - que não conhecia - com roteiro de viagem pelo compositor, e depois o famoso Kontakte fur elektronische Klange, Klavier und Schagzeug. Uma delícia que me levou, com prazer, naquele Novembro de 2005, a percorrer as avenidas novas em noite fria.
Karlheinz Stochausen - diz-me agora um amigo - morreu dia 5 de Dezembro de 2007 em sua casa, na Alemanha. Não sabia.
Da última, um concerto intimista, também na Gulbenkian mas desta feita no Grande Auditório. Muito poucas pessoas, curiosos, resistentes, melómanos ouviram a introdução do maestro que, de branco integral, pediu que os ouvintes se juntassem, as luzes se apagassem e os olhos se fechassem. A exigência da música electrónica deste alemão é tremenda. Um ou dois incautos adormeceram - o ressonar foi o sinal.
Wednesday Greeting - que não conhecia - com roteiro de viagem pelo compositor, e depois o famoso Kontakte fur elektronische Klange, Klavier und Schagzeug. Uma delícia que me levou, com prazer, naquele Novembro de 2005, a percorrer as avenidas novas em noite fria.
Karlheinz Stochausen - diz-me agora um amigo - morreu dia 5 de Dezembro de 2007 em sua casa, na Alemanha. Não sabia.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
What You See Is What You Get
22 de Janeiro de 1984, quando a América assiste à Super Bowl entre os Oakland Raiders e os Washington Redskins
passa, no intervalo, aquele que ficará como um dos mais famosos anúncios de televisão: 1984. Não fosse realizado por Ridley Scott, partilha também o ambiente ciberpunk-film-noir de Blade Runner.
Era a segunda vez que a Apple Computer comprara espaço publicitário em televisão. E, dias depois, o Macintosh estaría à venda, em qualquer loja de computadores.
Era a segunda vez que a Apple Computer comprara espaço publicitário em televisão. E, dias depois, o Macintosh estaría à venda, em qualquer loja de computadores.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
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